A última década do século XV e os primórdios do século XVI, encetam em Portugal um novo tempo que ficaria marcado pelo seu apogeu e desenvolvimento nas várias áreas culturais.
Foi no reinado de D. Manuel I (1495- 1521) que se viveram em Portugal os alvores da modernidade. O conhecimento e a abertura do caminho marítimo para a Índia e, em geral para todo o Oriente, possibilitaram um incremento das trocas comerciais e contactos com outras civilizações, contribuindo para o melhoramento sócio – económico e cultural do país. Consequência disso foi a chegada a Portugal de grandes artistas vindos dos principais centros culturais europeus, da França, Países Baixos e Itália, que através dos seus trabalhos a nível arquitectónico, escultórico e pictórico, introduziram novos gostos, tendências e técnicas.
A nível arquitectónico viviam-se os últimos tempos do gótico, “gótico flamejante ou tardo-gótico” caracterizado por ornamentações exuberantes, que preenchiam as catedrais e os grandes monumentos construídos no reinado de D. Manuel. Iniciava-se assim um novo momento estilístico no nosso país - o Manuelino.
Ornamentações inspiradas em motivos naturalistas, folhagens e animais, e elementos como a esfera armilar, as cordas marítimas, ou a representação do “Emanuel”, ficaram associadas à imagem do próprio rei, e foram reproduzidas em todas as obras patrocinadas por este monarca.
Também o Algarve foi alvo de construções deste período que atestam a importância da região e da cidade de Silves na época dos Descobrimentos ultramarinos, nomeadamente durante o reinado de D. Manuel I que lhe outorgou foral em 1504.
Entre essas obras destacamos a Cruz de Portugal, um dos mais belos padrões devocionais que podemos encontrar no nosso país e que traduz, através da sua linguagem escultórica e ornamental uma perfeita adequação ao simbolismo iconográfico manuelino. A emblemática porta da Igreja da Misericórdia, posteriormente transformada em janela, evidencia uma ornamentação baseada em motivos naturalistas e coroada com uma pinha onde se pode ler a inscrição “Casa da Misericórdia”. Destacamos ainda na igreja da S. Marcos da Serra umas das únicas pias baptismais que se reportam a este período e que mantém a sua forma e decoração original.